Cidade Universitária: padrão de cultura nacional
Calmon: “Diminuição de verba da Cidade Universitária significa lesão nos interesses supremos do país – Horta Barbosa: “ Cidade Universitária não é obra de momento; é obra para hoje e para sempre”- O que estão construindo junto do Aeroporto Internacional do Galeão
“As obras da Cidade Universitária são de natureza tal por sua importância e sua urgência que não comportam ser interrompidas, adiadas sequer, prejudicadas no seu ritmo - pois delas depende a instalação de uma universidade que deve ser o padrão da cultura nacional”, disse-nos o sr. Pedro Calmon, reitor da Universidade do Brasil.
Essa declaração foi provocada em virtude de ter a Comissão de Finanças da Câmara do Deputados cortado (emenda 1.474) 40 milhões de cruzeiros da verba de 280 milhões da Cidade Universitária - logo em seguida, com outra submenda, reduzida de 100 milhões de cruzeiros.
A entrevista teve lugar em seu gabinete (Praia Vermelha) logo após haver o reitor presidido reunião do Conselho Universitário que, entre outros assuntos, tratara justamente do seríssimo caso dos cortes de verbas da Universidade do Brasil.
Lesão grave
Prossegue o entrevistado:
“Qualquer retardamento, qualquer diminuição de verba destinada a êsse fim, qualquer embaraço oposto à realização daqueles trabalhos- significará lesão grave dos interêsses supremos do país.
Haja visto o que já se consumiu até aqui a fim de atingirem as obras o vulto que ora apresentam”.
O responsável pelo escritório Técnico da Universidade do Brasil nos informaria, depois, que já empregou a união 486 milhões nas obras da Cidade Universitária - ligação das 9 ilhas, alteamento da superfície, construção de pontes (2) do posto de puericultura (em funcionamento), um bloco do Hospital de Clinicas e da Escola de Engenharia.
Regozijo nacional
“Todos os esforços da ETUB, competentemente dirigido pelo Engenheiro Horta Barboza, continua o Reitor, se concentram, no momento, em sua maior parte, na construção do Hospital de Clínicas – sonho secular de nossa Faculdade de Medicina – e na Escola de Engenharia e Escola de Arquitetura.
Será um dia de regozijo nacional o da inauguração de qualquer desses edifícios. Desejamos que, com maior brevidade, sejam entregues ao serviço da mocidade.”
O Hospital de Clínicas (que já tem bloco de pé), segundo nos informou o dr. Horta Barbosa, será o maior do Brasil, com mais de 2 mil leitos. Para ter uma idéia de seu tamanho basta dizer que seu volume será 2 vêzes o do Ministério da Fazenda: “obra grandiosa, mas não suntuosa” frisa o engenheiro.
Segundo ainda o responsável pelo ETUB, com a verba solicitada (sem o corte da câmara) a Escola de Arquitetura seria entregue dentro de um ano e meio no máximo. E a Escola de Engenharia, 8 meses após.
Educação, um problema nacional
Depois de outras considerações, assim conclui o reitor da Universidade do Brasil:
“Estamos certos que pensam assim quantos sentem nesta hora a gravidade do problema da educação brasileira- posto, aliás, em termos decisivos pelo presidente Café Filho em seu recente e memorável discurso, dedicado inteiramente a esse grave problema nacional”.
A significação do corte
O corte de 100 milhões de cruzeiros da verba proposta ao executivo impossibilita não sòmente o prosseguimento de várias obras de urbanização da ilha como, ainda, atrasa muito os três grandes edifícios em construção : o do Hospital de Clinicas (quando todo o rio clama por mais leitos em hospitais): o da Faculdade de Arquitetura – que, em verdade não temos – funcionando, parte na Praia Vermelha, parte na Escola de Belas Artes; e da Escola Nacional de Engenharia que, quando terminar, mudará inteiramente nosso sistema pedagógico – com seu caráter essencialmente prático.
E haverá ainda outros transtornos – que custará muito dinheiro à Nação – como, por exemplo, a rescisão de contrato já assinado para a construção da ponte “Oswaldo Cruz” , com pagamento de lucros cessantes, etc.
A cidade universitária
“ A Cidade Universitária não é obra suntuosa, como muitos pensam”, esclareceu-nos o sr. Horta Barbosa. “E apenas a primeira tentativa de se planejar, racionalmente para o futuro (em educação) realizando a pouco e pouco conforme as possibilidades do presente.
Como a unidade de tempo com que se mede a vida de uma universidade é, pelo menos, o século – sua lotação deve poder (e pode) crescer à medida das necessidades. Tudo ali foi previsto – desde o mobiliário do quarto do estudante, até a arborização da ilha: desde a mobilidade de instalações dos laboratórios (que evoluem com o aperfeiçoamento da técnica) à atração turística de que deve estar revestido quem se avizinha com nosso mais importante aeroporto internacional.
A educação no Brasil
“ Admitindo-se que até o fim deste século o índice da população muito modestamente, de 0,8 a 2,0 estudantes por mil habitantes, e que nossa população chegue a 90 milhões – teremos de construir, aparelhar e custear cidades ou núcleos universitários para cerca de 180 mil jovens, isto é, para mais de 140 mil, além dos 40 mil de que dispõe o país no presente.
Esse moderado acréscimo de estudantes de nível técnico-científico – conclui o diretor do ETUB – exigirá que, em 40 anos construa o Brasil nunca menos de 14 novas universidades de 10 mil estudantes.
É bom, pois, que o governo apresente esta primeira.
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